quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ilusão ou auto-ilusão

Auto-Ilusão

94% dos professores universitários acham que são melhores no seu trabalho que os seus colegas.
25% dos estudantes acreditam estarem no 1% do topo em termos da capacidade de se relacionarem com os outros.
70% dos estudantes consideram-se acima da média na capacidade de liderança. Só 2% pensam estar abaixo da média.
---dados retirados do livro de Thomas Gilovich How We Know What Isn't So
Auto-ilusão é o processo de nos enganarmos a nós mesmos de modo a aceitar como verdadeito ou válido o que é falso ou inválido. É, de um modo abreviado, uma maneira de justificarmos crenças falsas a nós mesmos.
Quando filósofos e psicólogos discutem auto-ilusão, usualmente focam-se nas motivações inconscientes e nas intenções. Geralmente consideram a auto-ilusão uma coisa má, algo de que nos devemos proteger. Para explicar como funciona a auto-ilusão, falam no interesse próprio, preconceito, desejo, insegurança e outros factores psicológicos que, inconscientemente, afectam de um modo negativo a vontade de acreditar. Um exemplo comum é os pais que acreditam que o filho está a dizer a verdade mesmo se as evidências apontam claramente o contrário. Os pais iludem-se porque desejam que a criança esteja a dizer a verdade. Uma tal crença é considerada mais enganadora que a devida à falta de habilidade de avaliar as provas correctamente. Aquela passa por um erro moral, uma espécie de desonestidade, e é irracional. A segunda é uma questão de fé: algumas pessoas não são capazes de inferir correctamente a partir dos dados da percepção e da experiência.
Contudo, é possivel que os pais deste exemplo acreditem na criança porque a conhecem intimamente e não conheçam os seus acusadores. Os pais podem não ser afectados por desejos inconscientes e raciocinar na base do que sabem sobre a criança mas não sabem do outro envolvido. Os pais podem ter razões muito boas para confiar na criança e não confiar nos acusadores. Em resumo, um acto de auto-ilusão aparente pode ser explicado em termos puramente cognitivos sem nenhuma referência às motivações inconscientes ou ao irracional. A auto-ilusão pode não ser uma falha moral ou intelectual. Pode ser o resultado existencial inevitável de uma pessoa bàsicamente honesta e inteligente que tenha um conhecimento extremamente bom da sua criança, que sabe que as coisas não são sempre o que parecem ser, que não tem quase nenhum conhecimento dos acusadores da criança, e que, assim, não tem razões suficientes para duvidar da criança. Pode ser que um observador independente examine a situação e concorde que as provas indicam que a criança está a mentir, mas se assim não fosse nós diríamos que estava enganado, não auto-iludido. Consoderamos que os pais estão iludidos porque assumimos que não estão apenas enganados, mas a serem irracionais. Como podemos ter a certeza?
Um caso mais interessante seria um onde (1) um pai tem boas razões para acreditar que a criança diz provávelmente a verdade em qualquer situação, (2) as provas objetivas apontam para a inocência, (3) o pai não tem nenhuma razão particular para confiar nos acusadores da criança, mas (4) o pai acredita nos acusadores da criança. Tal caso quase impossível de explicar assumir qualquer espécie de motivação inconsciente e irracional (ou desordem cerebral) da parte do pai. Contudo,  se a incompetencia cognitiva for permitida como explicação para uma opinião aparentemente irracional, então os mecanismos psicológicos inconscientes não são necessários neste caso.
Felizmente, não precisamos de saber se a auto-ilusão se deve a motivações inconscientes ou não, para saber que existem situações em que a auto-ilusão é tão comum que devemos proteger-nos dela sistematicamente para a evitar.

Em resumo, auto-ilusão não é necessariamente uma fraqueza da vontade; pode ser uma questão de ignorância cognitiva, preguiça ou incompetencia. De facto, a auto-ilusão pode não ser sempre uma falha e pode mesmo ser benéfica. Se fossemos brutalmente honestos e objectivos acerca das nossas capacidades e àcerca da vida em geral, poderiamos ficar debilitantemente deprimidos.

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